Viajar grávida: o que ninguém te conta, mas eu vivi na pele
Quando pisei em solo holandês novamente, com 26 semanas de gestação e uma barriga impossível de disfarçar, senti um olhar demorado vindo de uma moça no saguão do aeroporto de Amsterdam. Ela hesitou por uns segundos, até criar coragem e vir até mim:
— Tudo bem? Desculpa perguntar, mas... como foi viajar grávida?
Naquele instante, me dei conta de algo: em todas as minhas viagens anteriores, raramente vi outra grávida dentro de um avião. E isso me despertou uma pergunta inevitável: será que viajar grávida é assim tão raro? Tão "anormal"?
A verdade é que minha jornada começou bem antes disso.
Cinco dias antes de embarcar para a Tailândia, eu descobri que estava grávida.
Primeira reação: pânico.
"Será que eu posso mesmo ir? É uma viagem longa demais... e se eu colocar meu bebezinho (esse que mal chegou) em risco?"
Na minha cabeça, eu estava com cerca de 6 semanas. Corri pra tentar marcar uma ultrassonografia, para ver se estava tudo bem e esclarecer as mil dúvidas que me tomavam.
Spoiler: não consegui. Aqui na Holanda, o primeiro ultrassom só acontece com 8 semanas, e a atendente foi clara ao dizer que antes disso, nada feito. Mas me tranquilizou explicando que, se eu não estava sentindo nada fora do normal, não havia contraindicação para a viagem.
E realmente, eu não sentia nada.
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| Se eu não avisasse, ninguém dizia que eu tava grávida |
Respirei fundo, coloquei meu biquíni (ainda sem barriga aparente, era tudo só gordura mesmo, risos) e fui. A viagem foi tranquila, apesar do medo inicial. Tinha receio de enjoar ou que alguma turbulência atrapalhasse meu bebê, mas a verdade é que, na maior parte do tempo, eu até esquecia que tinha um serzinho crescendo dentro de mim.
Depois da Tailândia, ainda seguimos para a Austrália. E aí sim, a volta pegou um pouco mais: os enjoos começaram a aparecer, e um ciclone fez nosso voo de 15 horas virar 18. Tivemos que desviar para Sydney, perder conexão no Qatar, passar mais um dia por lá... mas isso? Fica pra outro post.
Voltei, fiz os exames e, como esperava, meu bebê estava saudável e se desenvolvendo.
Foi só o começo.
Um tempo depois, já com 24 semanas, bateu forte a saudade de casa. Saudade da comida, da minha gente, da minha bagunça. Eu precisava ir pro Brasil. E fui.
Dessa vez, a barriga já estava super visível. Fiz minha lição de casa: entrei no site da companhia aérea e vi que, pela Air Europa, grávidas podiam voar até 36 semanas sem atestado médico. Mas é claro que isso não bastava.
Conversei com minha midwife aqui na Holanda, levei todas as dúvidas. Ela foi direta: não havia nenhum impedimento, já que minha gestação era de baixo risco. Só pediu que eu me levantasse com frequência durante o voo. Perguntei sobre as meias de compressão, mas como eu não estava retendo líquidos nem inchada, ela disse que não era necessário. Por precaução, levei um atestado médico comigo, só por segurança.
O único perrenguinho aconteceu antes mesmo do embarque: minha conexão era em Madri, e meu assento até Salvador estava no meio. Pedi para trocar por um no corredor, expliquei que precisava me levantar mais vezes por causa da gravidez. A funcionária respondeu apenas que o voo estava cheio e que não poderia fazer nada.
Saí de lá tensa, torcendo por uma alma caridosa que topasse trocar de lugar comigo.
Também tentei conseguir algum tipo de assistência. Quem já passou pelo aeroporto de Madri sabe: aquilo é uma cidade. Eu ia desembarcar no Terminal 2 e precisava ir para outro completamente diferente, com apenas uma hora de conexão e mochila nas costas. Mas o atendimento da companhia aérea foi zero útil. Disseram apenas: “chega lá e pergunta”.
Não deu tempo de perguntar nada. Corri como uma grávida de seis meses com o coração na boca consegue correr. Se eu perdesse aquele voo, acho que desabava de choro ali mesmo.
Na imigração, tentei entrar na fila preferencial, mas ouvi um seco “não”. Mesmo com fila para famílias e pessoas com mobilidade reduzida, aparentemente grávidas não entram nessa categoria na Espanha.
Mas aí veio o que gosto de chamar de "sorte de mãe".
Chegando no portão, descobri que a aeronave havia sido trocada e todos os assentos estavam sendo remanejados. Para muita gente, caos. Para mim, oportunidade.
O funcionário olhou pra minha barriga e gritou pro colega:
— Silva Miranda, assento no corredor!
Nunca achei que ouvir meu nome alto e bom som fosse me deixar tão feliz.
Subi no ônibus com prioridade, fui uma das primeiras a embarcar. E o voo foi ótimo. Levantei, mexi as pernas, comi com calma. Cheguei ao Brasil bem, feliz, inteira.
Na volta, foi melhor ainda. No Brasil, prioridade é lei. Não precisei esperar na Polícia Federal, fui super bem tratada em cada etapa.
No fim das contas, viajar grávida foi muito mais tranquilo do que eu imaginava. Claro, eu tive sorte de ter uma gestação saudável, e isso fez toda a diferença. Mas se eu pudesse dizer algo para aquela eu de semanas atrás, com medo e dúvida nos olhos, seria:
"Vai. Vai com calma, com planejamento, ouvindo seu corpo, mas vai. Porque gestar não precisa te impedir de viver o mundo."
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| Agora é só esperar para fazer as viagens com mais 1 acompanhante |
Checklist rápido para viajar grávida com segurança
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✅ Consulte sua obstetra ou midwife antes de viajar
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✅ Confira as regras da companhia aérea (se exigem atestado, até quantas semanas é permitido voar)
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✅ Use roupas confortáveis e sapatos fáceis de calçar
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✅ Leve lanches saudáveis e água na mala de mão
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✅ Evite ficar muito tempo sentada: levante-se, caminhe, movimente as pernas
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✅ Leve um atestado médico, mesmo que não seja obrigatório
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✅ Tenha seguro viagem com cobertura para gestantes
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✅ Verifique a infraestrutura do destino (hospitais, clima, idioma, etc.)





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