Desafio do ano: tirar a carteira de motorista na Holanda


Quando fiz a autoescola no Brasil, prometi a mim mesma que nunca mais passaria por aquele processo. Foi chato, estressante e desgastante. Fiz o teste cinco vezes e passei no último dia de validade do meu laudo. Era agora ou nunca!

Mas a vida tem um jeito engraçado de nos surpreender, e eu nunca imaginei que um dia estaria morando na Holanda. E aqui estou eu!

Entre todos os desafios da vida de imigrante, precisei enfrentar mais um: tirar a carteira de motorista novamente. Foi um processo difícil, que demandou tempo, dinheiro e muita paciência. Com mais de 30 anos, me perguntei várias vezes se realmente valia a pena passar por isso tudo de novo.

Mas eu nunca fui de desistir daquilo que realmente quero. Então, mergulhei na pesquisa para entender como funcionava o processo aqui. E não teve jeito: eu teria que fazer autoescola novamente.

Os Três Desafios

Havia três desafios pela frente:

  1. Passar no teste teórico.
  2. Encontrar um instrutor que desse aulas em inglês.
  3. Conseguir um instrutor que aceitasse dar menos aulas, para economizar dinheiro.

Diferente do Brasil, na Holanda você não precisa da autoescola para o teste teórico, podendo estudar por conta própria e fazer a prova. Mas um suporte sempre ajuda.

Pesquisei bastante e vi que os cursos daqui eram baseados no aprendizado por exercícios. Não havia muitas aulas explicativas, apenas apostilas opcionais. A maior parte dos cursos oferecia exercícios práticos, inclusive em aplicativos de perguntas e respostas, um dos quais assinei por ser barato. E assim, comecei a estudar.

Eu estudei pelo app do https://theorieexamen.nl/

Os testes eram desafiadores. O exame contém 65 questões divididas em três partes:

  1. Percepção de perigo (Harzard Perceptions): 25 questões, com limite de 12 erros.
  2. Conhecimento (Knowledge Questions): 12 questões, permitindo apenas 2 erros.
  3. Insight (Insight Questions): 28 questões, exigindo pelo menos 25 acertos.

Parece muito, né? Mas fui com coragem, mesmo com medo de reprovar, porque todos os mock-exams que eu fiz, eu não conseguir aprovação em nenhumzinho. 

No final, recebi o resultado na hora: PASSEI! Primeira etapa vencida.

Respirei aliviada, pensando que o pior tinha ficado para trás, mas é aquela história: me faltou criatividade.

Encontrando um Instrutor

A parte teórica estava resolvida, agora era encontrar um instrutor. Parecia simples, mas não foi. A maioria exigia entre 25 a 30 aulas mínimas, e eu me perguntava se realmente precisava de tudo isso.

Depois de muitas buscas, encontrei um instrutor que topou fechar um pacote de 15 aulas. Ele falava inglês, então aceitei na hora. Mas cometi um grande erro: não pesquisei direito sobre ele, me apeguei somente na questão do idioma e me deixei levar. Paguei muito caro por esse erro.

 O instrutor era preguiçoso e arrogante. Em várias aulas saí desmotivada e nervosa. Ao invés de me explicar os erros, ele apenas dizia que estava errado e mandava corrigir, sem me mostrar realmente como deveria ser feito. Muitas vezes discutiu comigo, dizendo que eu não fazia algo certo, quando, para mim, eu estava fazendo corretamente e só não conseguia ver onde eu estava errando para acertar, sabe?

O Primeiro Teste Prático

O dia do exame chegou, e ele não me preparou para nada, não explicou como seria, quais as etapas, enfim. Achei que seria como no Brasil, onde apenas o instrutor está no carro. Então fiquei confusa quando ele entrou também. Daí para frente, foi um desastre: o carro morreu, não vi uma bicicleta passando, errei prioridades.

Eu estava extremamente nervosa, nem parecia que sabia dirigir na vida. Reprovei.

Fiquei chateada comigo, com o instrutor, com esse país. Mas o pior ainda estava por vir.

O Segundo Teste (ou a Falta Dele)

Pedi mais aulas, e o instrutor simplesmente me ignorou. Enviei emails, mensagens, liguei, mas toda a resposta era: vou ver, já te retorno... 

No dia do exame, descobri que ele nem havia marcado minha prova!

Foi o fim da linha pra mim. Comecei a procurar outra autoescola e essa outra autoescola entrou em contato com esse primeiro instrutor. Pois acredita que ele ficou bravo e me disse poucas e boas? Mas eu também respondi.

Depois de tudo isso, me desmotivei. 

Como estava cansada e sem pressa, respirei fundo e perguntei para todo mundo que conhecia se tinham indicações de um bom instrutor. Queria alguém que entendesse a minha situação, de já ter a carteira, de precisar entender o trânsito aqui. Foi assim que um colega de trabalho, também brasileiro, me indicou um brasileiro-holandês que compreendia nosso estilo de dirigir.

A Diferença de um Bom Instrutor

Esse novo instrutor foi um achado. Betinho De Voogd o nome dele.

Apesar da família brasileira, ele não falava português, mas só de entender um pouco como a gente é, fez uma diferença enorme. Paciente e profissional, ele percebeu que meus erros não eram de habilidade, mas sim psicológicos. No final de cada aula, ele revisava comigo os pontos a melhorar e como ajustar para a próxima.

Ele sempre repetia para mim: você sabe o que tem que fazer, confia em seu conhecimento.

Se eu tivesse encontrado o Betinho antes, teria feito metade das aulas. Mas, no total, com os erros do primeiro instrutor, acabei fazendo 35 aulas.

Fechei 15 aulas com ele e depois que eu perdi no 2o teste, pedi mais 5 aulas só para me sentir mais segura.

Esse segundo teste que eu cometi 1 erro, somente e como é discricionário do examinador se esse 1 erros é suficiente para reprovar, fui reprovada (ultrapassei uma bicicleta num cruzamento em uma rua residencial).

Conheci gente aqui que foi recomendada a fazer 56 aulas. CINQUENTA E SEIS! Por isso, dizem que a autoescola para imigrantes na Holanda é uma máquina de fazer dinheiro. Eles impõem dificuldade, pressão psicológica e criam a sensação de necessidade de mais aulas do que realmente são precisas. 

Passar por tudo isso já é um teste maior que o próprio teste prático.

O Teste Final

O exame prático é simples:

  1. Primeiro, fazem uma pergunta sobre o carro (pneu, óleo, faróis, etc.).
  2. Depois, pedem para ler algo à distância para testar sua visão.
  3. Em seguida, começa a direção, que dura cerca de 30 minutos:
    • Parte do trajeto é feita seguindo o GPS.
    • Parte com o examinador dando as instruções.
    • Por fim, você deve fazer uma ou duas manobras solicitadas.

Dessa vez, estava preparada psicologicamente. Ainda errei o caminho do GPS, mas continuei até recalcular a rota e voltei para o caminho que ele queria que eu fosse, sem cometer erros de direção. 

Fiz tudo com calma e, finalmente, PASSEI!

Não foi fácil. Tive altos e baixos, momentos de desespero e frustração. Mas ver meu nome naquele cartãozinho fez tudo valer a pena. 

Recomeçar do zero é difícil, mas conquistar algo que parecia tão distante é ainda melhor!


Agora estou aqui motorizada andando pra cima e pra baixo

Agora estou aqui motorizada andando pra cima e pra baixo!


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